Qui tacet, consentire videtur

OLHAR EM VOLTA E ACHAR TUDO ESTRANHO E DIFERENTE, QUANDO TUDO SEMPRE ESTEVE IGUAL, INDICA QUE SEUS DIAS DE ESTUPIDEZ ACABARAM. A MAIOR BENÇÃO QUE UM SER HUMANO PODE TER, É PODER CONTEMPLAR SOZINHO A CAPACIDADE QUE SEU SEMELHANTE TEM DE SER ESTÚPIDO. "Que Deus me defenda de mim, da natureza que me foi inculcada".(Nietzsche, F.W.)

Tuesday, August 06, 2013

Despedida

Algumas coisas em nossas vidas são permanentes. Coisas e também pessoas. Eu tentei me despedir, por mais de uma vez, de mais de uma coisa e de mais de uma pessoa. De algumas eu consegui, de outras, não. Despedir-se de algo ou de alguém é sempre mais difícil, quando o que se gostaria mesmo era se aproximar cada vez mais daquilo ou daquela pessoa. Quero aqui me reportar especialmente à questão das despedidas das pessoas. No último post, faço uma analogia entre as tentativas (às vezes frustadas) de encaixe de pessoas em nossas vidas. Podemos passar muito tempo acreditando que certas pessoas se encaixam em nossas vidas, ou - e, principalmente, no caso aqui - que nos encaixamos nas vidas de outrem. Em outros termos, podemos passar muito tempo nos 'enganando' quanto a isso. Dói perceber que não é possível o tal encaixe? Demais! É frustrante? Muito! É decepcionante? Muito! Mas a vida tem que seguir. A gente tem que seguir... Por diversas vezes, no caso em questão, fiz isso: segui adiante. Mas parece que, por alguma razão - que, confesso, já não sei mais se tenho 'olhos' para detectar por qual - a espiral de encontros, desencontros e reencontros que a vida me proporciona me fez (re)acreditar que talvez ainda houvesse uma possibilidade de encaixes. Não houve. Então, o que me cabe fazer? Despedir-me. Mas isso não é tão simples. Dói. Recentemente, fui impelida a despedir-me da pessoa que mais me amou na vida e, certamente, aquela que mais amei também: minha mãe. A despedida foi obrigatória. Sem acordo. Sem discussão. Simplesmente, a vida achou que assim era melhor, e nos afastou incondicionalmente. Nesses casos, quando a decisão não nos cabe, a despedida é dolorida mas, porque inevitável, acabamos, depois de algum tempo, nos conformando e nos adaptando ao fato. Mas, e a respeito do que me ocorre agora? Pelo menos sob o meu ponto de vista, esta despedida me era inexorável. Não poderia mais postergar um "adeus", simplesmente por excesso de teimosia, orgulho e arrogância. Sim, orgulho e arrogância foram dois vícios que me acompanharam nesses tantos anos, quando o assunto era "a despedida". Não conseguia conceber a ideia de me afastar de alguém que, já declaradamente, fazia parte da minha essência e de quem a recíproca - ao que tudo indica(va) - é(era) verdadeira. Mas não me acompanharam somente estes dois vícios. Fui acometida por outras tantas virtudes e sentimentos que, de algum modo, me faziam continuar pensando que não valia mesmo a pena despedir-me. Paciência, resiliência, respeito, admiração...tudo isso me fez continuar tentando entender o que acontecia nessa relação e por que as coisas pareciam mudar tão pouco, mesmo com o passar dos anos. Entretanto, agora é a hora da despedida acontecer. Não há mais que postergá-la. Continuarão existindo respeito, admiração, carinho, amor. Nada disso mudará. Mas, como tudo acaba mesmo virando história, faço aqui minha reverência (quase um elogio) a um período da minha vida (quase metade dela!) que me foi caro e do qual me lembrarei sempre com muita saudade. Meu trabalho daqui para frente terá de ser o de transformar esta saudade em sentimento bom, sem nostalgia ou frustrações. Saudade de boas histórias. De momentos bons, mas que não voltam mais. É difícil demais ter a percepção de que não se trata de não querer, mas sim, de não conseguir. E, sinceramente, hoje tenho absoluto respeito por isso. Honestamente e de coração limpo, eu me despeço. Me despeço e faço isso com muita dor. E não tenho qualquer problema em admiti-la. A dor que me causo com a despedida é absurdamente desconfortável e, honestamente, não sei quanto tempo vai demorar a passar, mas farei questão de vivê-la e transformá-la em luto e depois em saudade, pois nunca fui daquelas pessoas que preferem o conforto do não confronto. Principalmente se este for comigo mesma. Despeço-me por exaustão e por não ter mais ânimo para acreditar que seja possível absolutamente qualquer tipo de encaixe. Sinceramente.